sexta-feira, novembro 16

Na praia de Flecheiras, em Trairi (CE), as algas são mais que uma espécie marinha. Com cultivo sustentável e o uso da energia solar, a comunidade gera renda e protege o meio ambiente em uma iniciativa inovadora.

O projeto ganhou destaque ao ser finalista do The World Challenge 2007, um prêmio internacional concedido pela Shell, BBC e Newsweek para projetos que se destacam na preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida.

Milhares de internautas colaboraram na votação On-Line, que foi encerrada no dia 16 de novembro. O projeto S.O.S Algas agrade o apoio de todos!

terça-feira, outubro 16

Quer conhecer mais sobre o projeto S.O.S Algas?!

A rede de TV britânica BBC produziu um documentário de 10 minutos sobre o projeto.

O vídeo já está disponível no Youtube, em duas partes:

http://br.youtube.com/watch?v=zTA7NF2EkTw (Parte 1)
http://br.youtube.com/watch?v=VKKkrVUhMq8 (Parte 2)


Contamos com o seu voto! Que saber como votar?! Leia abaixo!

Energia solar

Enquanto cientistas de todo o mundo garantem que o uso das energias renováveis é fundamental para salvar o meio ambiente, no projeto S.O.S Algas isso já é feito na prática.

Na praia de Flecheiras, foi instalado o Centro de Processamento de Algas, onde elas são lavadas e desidratadas.

Todo o sistema funciona graças à energia solar. Uma placa fotovoltáica gera eletricidade para o bombeamento da água doce usada na limpeza das algas e a iluminação local.

Mas o destaque é um equipamento chamado "Secador Solar". Com o secador, as algas são desidratadas rapidamente, e sem queimar.

Os algueiros foram treinados para utilizarem todos os equipamentos e ainda participaram da construção do Centro.



Cultivo sustentável

As algas marinhas são espécies de grande importância para o bioma marinho. Elas são a base da cadeia alimentar e, quando preservadas, garantem um ecossistema muito mais saudável.

Antes da implantação do projeto S.O.S Algas, a prática comum era de recolher as algas na areia das praias ou retirá-las diretamente dos bancos naturais, comprometendo toda a cadeia alimentar da região. Isso mudou.

Hoje, os algueiros vão aos bancos naturais apenas para retirar sementes. As algas crescem em cordas no mar, como em uma plantação.

As famílias ganham em produtividade e o meio ambiente, em preservação. Até a produção de peixe aumentou!


Participação popular

O projeto S.O.S Algas não é apenas técnica. As famílias de Flecheiras e Guajirú receberam atenção especial e hoje assumiram a gestão de todas as atividades.

Homens, mulheres e jovens dividem as diversas atividades de acordo com as suas habilidades e interesses. Enquanto os homens, acostumados com a pesca, ficam responsáveis pelo cultivo no mar. Já as mulheres, mais cuidadosas, são responsáveis pela limpeza do material.

A Associação dos Algueiros de Flecheiras e Guajirú (APAFG) realiza reuniões regularmente e todas as decisões são tomadas em grupo.


Produtos artesanais

Com a melhoria da qualidade das algas, as famílias envolvidas no projeto começaram a inovar. Hoje, é possível adquirir xampu de algas, sabonete de algas, creme redutor de celulite à base de algas....

Todos os produtos de beleza são vendidos em embalagens artesanais, produzidas com material reciclado ou de recursos da própria praia, como conchas.
Mas as algas também chamam atenção na culinária. Pizzas, panquecas, geléias...

O visitante também pode adquirir algas desidratadas e criar suas próprias receitas!
Com tantos resultados positivos, o projeto S.O.S Algas ganhou destaque na mídia. Em 2006, o Jornal Hoje, da Rede Globo, veiculou uma matéria sobre as catadores de algas de Flecheiras.

Clique aqui para ver a matéria no site da Globo.

No mesmo ano, a revista Globo Rural também se interessou pelo trabalho e publicou uma reportagem sobre o projeto. Leia abaixo.

segunda-feira, outubro 1

Projeto S.O.S Algas

Catadoras de Algas

Leia aqui reportagem da revista Globo Rural sobre o projeto S.O.S Algas, publicada em maio de 2006.
Texto: Janice Kiss

Dona Chinha é o apelido de Maria Marques de Castro, que há 25 anos trocou a terra pelo mar. Ela passou um terço da vida plantando milho e feijão em Canaã, distrito de Trairi, a 137 quilômetros de Fortaleza. Mas não hesitou em mudar para o distrito próximo de Flecheiras, seguindo o marido pescador que vivia contrariado na lida de produtor.

Fez a alegria dele e encontrou a própria, transformando-se em agricultora do mar. Aos 70 anos, Chinha é a integrante mais velha de um projeto do Instituto Terramar. Sete anos atrás, a organização não governamental cearense implantou uma pesquisa pioneira de cultivo de algas gracilárias (Gracilaria birdiae) em Flecheiras e no vizinho Guajiru.

Nesse canto no norte do litoral do Ceará, os maricultores punham em risco a sobrevivência dessas plantas de água salgada que têm seu valor num gel - o ágar - usado como matéria-prima nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. Como todas as outras pescadoras, Chinha retirava o produto que costuma ficar grudado aos bancos naturais, como pedras e corais. E de preferência naqueles mais próximos à praia pois, mesmo perto do mar, ela nunca se atreveu a nadar. "Vivo da água, mas prefiro manter os pés firmes no chão", diz.

Sem muito entender, ela engrossava o coro de um processo extrativista desenfreado de mais de 30 anos e que causou a queda de 70% na produção da planta por lá apelidada de macarrão, em razão de seu formato. Junto com as algas, foram-se embora também os peixes que dela se alimentam.

O presidente da APAFG - Associação dos Produtores de Algas de Flecheiras e Guariju, Raimundo Nonato Nunez, afirma que camarão, lagosta, sirigado e outros pescados desapareceram dali. Mas só até o Terramar unir o cultivo das algas à preservação do ecossistema. À frente da ONG, o engenheiro de pesca Dárlio Teixeira não desanimou com a costumeira resistência a mudanças.

Afinal, ele tinha para mostrar aos pescadores os resultados de uma experiência similar feita no Chile, de onde vem boa parte das algas consumidas no Brasil. Porém, o xeque-mate veio na hora da comercia- lização: cinco reais pelo quilo da planta cultivada, contra 50 centavos pela mesma quantidade colhida de forma extrativista.

Vida Nova
O salto no preço aconteceu porque desde 2001 passaram a entregar o
material mais limpo. "As retiradas dos bancos naturais são sujas de areia e lodo", esclarece Teixeira. Bem antes desse momento, Pedro Edvan dos Santos e a sorridente esposa Marta se deram conta de que o futuro da nova atividade dependia da acolhida da nova tecnologia.

Ao lado de outros pescadores, eles aprenderam que, a cada dois meses e durante as marés baixas (nas luas cheia e nova), acontece a colheita da plantação e dela se faz a reserva de boas mudas, reunidas em montinhos de 60 gramas. São, então, amarrados em seis módulos, cada um com 12 cordas de 50 metros, fixadas em garrafas plásticas, que permanecem em alto-mar. A coleta dos últimos seis meses somou mil quilos de gracilárias, ou cerca de 250 quilos do produto seco.

Duas ou três vezes por semana, uma turma se põe à trabalhosa operação de faxina. O sacolejo da jangada não intimida algueiras e pescadores, que mergulham a uma profundidade de 12 metos na maré alta e se equilibram apenas na incessante batida de pernas. Enquanto homens seguram as exarcadas cordas, as mulheres retiram com as mãos resíduos, camarões e sirigados que se emaranham nas algas. Por enquanto, as estruturas de corda são comunitárias, mas a intenção é que cada família tenha a sua própria.

Com a implantação do projeto, Raimundo Nunez deixou de crer que multiplicação que a multiplicação dos peixes é apenas uma passagem bíblica. Anos atrás, um bom dia contabilizava 15 quilos de pescado. Agora, o volume pulou para 40 quilos. "Até a lagosta, que sumiu do mapa, dá o ar da graça", compara. Segundo Dárlio Teixeira, a planta influencia na quantidade porque faz parte da cadeia alimentar marinha.

Como em qualquer cultivo na terra, toda mão-de-obra é bem-vinda durante a colheita na água. Nessa época, as famílias se juntam na associação dos moradores à espera da chegada das algas transportadas em lombo de boi e ainda presas nas cordas que pesam mais de 200 quilos, por conta das plantas e da água salgada.

Sentadas no chão, as algueiras se dedicam pacientemente a soltar as gracilárias com uma faquinha. "Essa função é delas por causa do capricho", reconhece Pedro Edvan.

Limpeza
Em meio aos "causos" engraçados de dona Chincha, elas dão andamento ao processo de limpeza que inclui diversas lavadas (até com limão) para tirar o cheiro forte do produto. As algas ficam então três horas em um secador solar construído pelo IDER - Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis.

O trabalho é pesado, mas os pescadores podem ganhar até 300 reais mensais contra os 60 reais vindos do extrativismo. "Pode parecer pouco, mas graças à tecnologia reformei a casa, comprei equipamentos de pesca e estou fazendo um barco maior para trabalhar em alto-mar", diz Raimundo Nunez. Os produtores atendem quatro indústrias nordestinas e a expectativa é de abastecer 30 empresas nos próximos anos.

O projeto cearense já foi levado ao Rio Grande do Norte e Paraíba pela FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. A GTZ, agência ambiental do governo alemão, também se interessou pelo programa e investiu 50 mil reais para aperfeiçoar os equipamentos de produção. Com o reconhecimento internacional, pescadores e algueiras não se intimidam em sugerir que o país tem condições de reduzir a dependência da gracilária importada se experimentar a tecnologia de suas pequenas comunidades.

Mil e uma utilidades
As algas têm um gel (ágar) valioso, que entra na composição de inúmeros produtos. Ele é um ingrediente indispensável na fabricação de artigos em três tipos de indústrias:

Farmacêutica: medicamentos
Cosméticos: xampus e sabonetes
Alimentícia: geléias, balas e doces em geral

Coisa do passado
O Instituto Terramar implantou o cultivo de algas, mas não contava com que as agricultoras do mar fossem dar um jeito de tirar mais proveito do projeto. Marta dos Santos viana, por exemplo, elaborou um punhado de receitas - gelatinas e musses são algumas delas - com a água usada para o cozimento das algas. Descobriu que seus pratos ficavam mais ricos em fibras por conta do gel (ágar) presente na planta.

Depois inventou moda. Com o apoio da filha, criou objetos de artesenato e bijuterias, vendidos na lojinha montada na frente de casa. E com as outras algueiras deu início à fabricação de xampus e sabonetes, submetidos a um processo de avaliação. "Nosso sonho é ter uma loja de cosméticos com venda direta ao consumidor", planeja Marta.

No projeto das comunidades de Flecheiras e Guajirú está está incluída a construção de uma sede, que abrigará todas as etapas de produção do plantio e dos produtos de beleza. Dessa forma, a associação dos pescadores espera atrair a atenção dos turistas para a importância dessa tecnologia. De acordo com o pedagogo e assistente técnico do Terramar, Henrique Gomes, as famílias se uniram no entorno da técnica.

Hoje, por exemplo, os participantes discutem metas de trabalho. "Algo remoto tempos atrás", afirma. É certo que os pesquisadores ainda estão na labuta por conseguir recursos financeiros para a construção da tão desejada sede. Porém, carregam a convicção de que o extrativismo pertence apenas ao passado.